Crianças são crianças. E quando estão juntas, mais crianças se tornam em sua vivacidade e criatividade. Não foi diferente o que eu vi ao chegar ao “comedor” da Igreja Adventista na comunidade de Santa Cruz, na Venezuela, como já aludi anteriormente.
Creio que eu posso dizer que fui sendo convertido à criança por meio das crianças. E também, devo dizer, as crianças foram me convertendo ao evangelho de Jesus Cristo. Este não tem sido um caminho fácil nem rápido, pois eu estava muito seguro da minha adultez e da suficiência que ela traz consigo. Aliás, eu tinha certeza, ainda que fosse uma certeza burra, de que as crianças é que precisavam de mim. Quanto engano numa vida só!
Quando eu cheguei àquele refeitório repleto de crianças e comecei a andar entre as mesas procurando aqui e ali um lugarzinho onde eu pudesse me sentar ao lado delas, logo, logo elas me convidavam a “jogar adivinhação”. É claro que eu fui um desastre, desajeitado que estava diante da fluidez e da agilidade das crianças. Mas eu fui ficando, pois queria sentir as crianças um pouco; e aos poucos fui soltando a pergunta que eu trazia engasgada na garganta: “Quem de vocês tem alguém fora do país?” Alguém que tivesse deixado o país, tornando-se um dos oito milhões que têm deixado a Venezuela nestes últimos anos. Logo elas foram despejando uma quantidade de lugares onde se encontravam pessoas de suas famílias. A conversa foi rápida e até leve. Mas senti o peso de estar diante de crianças cuja infância está marcada pela ausência de seus entes queridos. Eu estava diante de crianças que estão crescendo sozinhas, privadas de afeto e com mais sentido de abandono. Crianças cuja vivacidade não anula a dor de tantas ausências em suas tenras vidas.
A imigração é uma crescente tragédia em nossa América Latina; e as maiores vítimas dessa tragédia são as crianças.
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