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  • Foto do escritorValdir Steuernagel

A vocação de Deus é a nossa identidade


Você pode escutar este episódio clicando aqui.


Olá.

Eu sou Valdir e esse é o podcast EntreLinhas.


Neste podcast a Silêda e eu vamos conversar sobre histórias, sobre encontros e orações. Às vezes eu, às vezes ela, às vezes juntos.


Esses podcasts de histórias, encontros e orações são reflexos da marca das nossas vidas, pois essas três palavras acabaram sendo marcas da nossa própria existência. As histórias, os encontros e as orações.


Bem, para falar a verdade elas não são exatamente marcas históricas da minha vida. Elas fazem parte da minha conversão, pois eu não era uma coisa nem outra: eu não tinha tempo para histórias e achava que as histórias eram algo supérfluo. Dentro de uma vida produtiva, os meus encontros precisavam de agenda para serem valorizados; colocados na agenda para serem dignos. E as orações eram muito rápidas, pragmáticas, quando aconteciam. Mas, creio que eu possa dizer que estou em processo de conversão e várias coisas, vários encontros, vários capítulos, por assim dizer, da minha vida marcaram esse o processo de conversão.


Como muitos de vocês de repente já sabem, eu tenho aprendido muito com a Silêda. A Silêda e eu temos quase 45 anos de vida matrimonial e durante esse período eu aprendi com ela o significado das histórias, a importância delas, dos valores dos encontros e das orações, e, além da Silêda, outras pessoas que investiram em mim e que toparam caminhar comigo; pessoas que se tornaram amigos, homens e mulheres que cedo na minha vida gastaram do seu tempo, energias e recursos para que eu pudesse andar e permanecer nesse caminho da conversão.


Mas, acima e além de tudo, esse é um aprendizado com Jesus. Acho que poderia dizer que é um aprendizado aos pés de Jesus. A sua palavra, cada vez mais, e sempre novamente, tem me cativado, tem me levado a uma revisão de vida, e também a descoberta de tantas coisas novas que a Sua Palavra, especialmente a Palavra dos Evangelhos, do próprio Jesus, provoca na gente. Além da palavra de Jesus, o estilo de Jesus, o Seu jeito de encontrar as pessoas, o Seu tempo para ouvir as histórias, o Seu discernimento de como as pessoas viviam, passavam, queriam, buscavam. Uma capacidade enorme de discernir, de perguntar na hora certa, de estar presente, de chegar na hora certa. É esse estilo de Jesus que tem me chamado para uma continua conversão. E oração como um estilo de vida, como um jeito de viver, como uma relação que Ele cultivava com com o Pai, que Ele cultivava no seio da Trindade. Essa oração de Jesus, por Ele mesmo, para que Ele pudesse permanecer no caminho e essa oração de Jesus por mim, que é uma oração que acontece por mim, acontece por nós, acontece pelos seguidores de Jesus, sempre na dependência do Espírito. O espírito é aquele que está continuamente intercedendo por nós.


É surpreendente e encantador, às vezes assustador, o que Deus faz conosco e os caminhos que a vida vai nos levando, para encontros e para formulações de orações que enriquecem e surpreendem, cativam a nossa vida. Por isso, quando a gente falar sobre histórias aqui neste podcast EntreLinhas, a gente falará muito da gente; falaremos de pessoas que nos encontraram, de eventos que nos marcaram e de como Deus marcou a nossa própria vida.


A nossa vida vai sendo desenhada no decorrer dos anos. Ela não é uma vida que nasce pronta, por mais que por vezes pais e mães, avós têm expectativas quanto a nossa vida, quanto a nós. Mas a verdade é que a vida vai sendo desenhada. Ela vai sendo desenhada no decorrer da vida, a partir dos encontros; encontros conosco mesmos e com as coisas que vão acontecendo com a gente, com os nossos pecados, com as nossas alegrias, com as nossas virtudes e potenciais. A vida é cheia de encontros; encontros nossos com os anjos e com os demônios e que vão marcando a nossa vida. Ela também vai sendo desenhada a partir de pessoas, a partir dos outros que entram na nossa vida.


Eu falei aqui da Silêda, né. O fato de que a gente tem caminhado junto tantos anos tem tido uma marca profunda na minha vida e claro que os anos de caminhada com a Silêda já são quase o dobro dos anos que eu vivi sem a Silêda. Então esse encontro com ela acabou gestando, gerando, também, identidade em mim. E não só a Silêda, outros, outras pessoas que Deus vai colocando no nosso caminho. Às vezes a gente vai tropeçando nelas; pessoas que vão nos convidando para encontros novos, para descobertas novas, e por isso eu sou profundamente grato as pessoas que têm me encontrado e que têm se deixado encontrar por mim para que eu descobrisse, e continue descobrindo com elas, a riqueza da vida, a graça do abraço, a virtude do amor, a convocação para uma prestação de contas, um telefonema que vem e diz: Valdir, preciso conversar com você. Como vai ser isso? Esses encontros vão desenhando a nossa vida.


E, certamente, não é a toa que deixei por último, Deus vai desenhando a nossa vida. Esse é o mistério, Ele é um mistério da vocação; esse desenho de Deus, essa voz de Deus que vai nos encontrando, vai nos alcançando e vai modelando as nossas opções, os nossos passos, os caminhos pelos quais entramos, às vezes titubeando, às vezes dicernindo errado, mas, sempre de novo, Deus tem uma palavra que nos leva pelo caminho no qual encontramos a Ele, ao outro, a nós mesmos; no qual encontramos a própria vida e no qual somos orientados para a vida, pelo desenho do próprio Espírito de Deus que sopra sobre nós.


Rebuscando as minhas memórias (a gente começa a fazer isso a medida que envelhece, não é). Rebuscamos as minhas memórias, eu fiquei pensando que foi aos 12, muito cedo, aos 12 anos, entrando na adolescência, que, pela primeira vez, eu tive como que um Insight. Pela primeira vez, aquela percepção: "Quem sabe eu vou ser pastor", porque ser pastor era uma realidade, por um lado, distante, muito distante, da vertente cultural da minha microfamília, até um pouco da macrofamília. Não tinha pastor. Era uma coisa fora do universo dos meus dos pais, dos meus avós, que diziam: "Ah, porque você não, né". Mas, por outro lado, era uma realidade da nossa opção histórica dentro da Igreja Luterana, dentro da qual nós nascemos, por assim dizer, eu, meus irmãos, meus pais. E nesse universo, aos 12, que eu disse: "Quem sabe... quem sabe é isso". Mas foi aos 17 anos, uns anos depois, que isso clareou e que ganhou linguagem; que virou sonho. Sonhos, quando eu comecei a dizer: "Não, Deus está me chamando". Aos 12 anos foi, por assim dizer, um primeiro toque, um primeiro Insight. Quem sabe, a gente podia dizer, que Deus deu um sorriso e aos meus 17 anos isso clareou. Clareou no sentido de que eu comecei a encontrar uma linguagem para dizer o que eu falei antes: "Deus está me chamando. Eu vou seguir o caminho pelo qual Deus está me orientando". E claro, para minha família, foi um processo onde eles olharam para mim e até disseram: "É fogo de palha. Isso é fogo de palha do Fáldi", como eles me chamavam em casa, "Isso é um fogo de palha". Mas eles foram vendo que não, que eu, à medida que essa voz de Deus ia clareando dentro de mim e ia verbalizando isso em uma linguagem e fui tomando passos concretos para que isso se viabilizasse na minha vida, e, por isso, aos 18 anos, eu fui levado, pelos meus pais, de Santa Catarina, de Joinville para o Rio Grande do Sul, para Faculdade de Teologia da Igreja Evangélica Luterana, igreja qual nós pertencíamos e pertencemos até hoje. Então, os 18 anos foi o ano onde se concretizou esse caminho.


Então, veja essa história fantástica, esse mistério vocacional: 12 anos o primeiro Insight. 17 anos, um clarear. 18 anos, um concretizar.


Por décadas eu tenho vivido por esses caminhos. Foi um antes e um depois: no antes foi essa minha infância solta, correndo como menino, lá em Joinville, em Santa Catarina, fazendo um curso técnico de contabilidade, e o depois foi, centrado na Faculdade de Teologia, onde eu me encontro até hoje, procurando entender, compreender um pouco mais dessa teologia, desse Deus que nos chama para ser.


Não foi, não, uma linha reta e ainda bem que não foi. A vocação é uma conversa entre a voz de Deus, entre os encontros e o que eles nos proporcionam, os encontros da vida, os desafios e as oportunidades. A vocação, a gente podia dizer, a vocação não é uma linha reta. A vocação é uma linha de escuta e uma linha de obediência. Eu acabei sendo o que eu sou hoje (e o que de repente o que falaremos outras vezes neste podcast EntreLinhas) a cabeça do pastor. Mas sendo pastor, creio que me tornei uma pessoa de caminhada, de sonhos conjuntos com outros. Por isso, no meu ministério eu tenho algumas das marcas que caracterizam esse sonho, seja na época em que eu fui obreiro na Aliança Bíblica Universitária do Brasil, ou anos de sonhos de expansão da Bio fantásticos, seja nos anos do Movimento Encontrão dentro da nossa igreja onde nós trabalhávamos a evangelização o redespertar de comunidades, seja as opções missionárias, seja na Aliança Evangélica onde nós buscamos caminhos que viabilizava a expressão da unidade da Igreja, ou seja na Visão Mundial. Na Visão Mundial Internacional, com o seu ministério de acolhimento das crianças mais pobres, das ajudas na emergência, e assim tem sido essa caminhada de vida. Uma caminhada marcada pela gratidão; uma caminhada marcada por erros e acertos; uma caminhada marcada pela graça de Deus. Por isso, neste primeiro podcast do EntreLinhas, eu queria compartilhar um pouco dessa minha caminhada, da qual nós ainda vamos falar outras vezes nessas nossas conversas.


Hoje eu termino com essa oração, que eu quero repetir sempre de novo, que eu aprendi de Dietrich Bonhoeffer, quando ele disse: "Deus nos guia com sua benignidade por esta época e, particularmente, Deus nos guia até Sua presença". Oração por mim e por você.

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