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Valdir
Eu sou Valdir.
Silêda
Eu sou Silêda.
Valdir
E este é o podcast EntreLinhas, um podcast de Histórias, Encontros e Orações.
Falando histórias, Silêda, você lembra quando a gente se encontrou?
Silêda
Se eu me lembro?
Eu sou maranhense e eu tinha vindo para o encontro de estudantes universitários da ABU no interior do Rio de Janeiro, em Rio Bonito, e foi lá que nós nos conhecemos. Eu, vindo do Maranhão, três dias de viagem de ônibus, e você apareceu lá entre os quase 60 estudantes daquele encontro. Ali a gente se conheceu, eu voltei para o Maranhão e você voltou para a sua vida no Sul.
Valdir
Eu não voltei para o Sul. Você lembra que foi diferente?
Eu tinha descoberto, um presente de Deus, a ABU - Aliança Bíblica Universitária do Brasil - e tinha me encantado; tinha sido cativada por essa vocação de testemunho junto ao mundo universitário.
Eu fazia teologia em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Eu fazia alguma coisa, algum curso... Aliás, eu fazia pedagogia na Universidade do Vale dos Sinos e eu estava passando um semestre em São Paulo, como uma espécie de estágio, e nesse caminho, "com mala e cuia", por assim dizer, do Rio Grande do Sul, é que eu fui para esse encontro da ABU no Rio de Janeiro, em Rio Bonito, onde eu, em uma experiência muito rica, como muitas vezes a ABU proporcionou, encontrava estudantes cristãos em vários lugares do Brasil e lá a Silêda e eu nos conhecemos.
A gente se conheceu, num contexto de evento. A gente se conheceu no contexto, eu quase ia dizer em um contexto de congresso, mas era um curso de férias. A gente se conheceu assim.
Silêda
Sim, um evento, que para mim foi um evento. Aliás, porque lá em São Luís, quando eu soube desse curso de férias, eu já estava envolvida com Aliança Bíblica Universitária como estudante na faculdade.
Para mim, a ideia de ir a esse encontro, no Rio, seria um evento impossível e eu e um dos outros amigos da ABU fomos pedir ajuda ao reitor da Universidade. Dissemos a ele que a gente queria participar de um curso de treinamento de líderes cristãos, no Sul, no Rio, e que a gente não tinha dinheiro. Ele, muito interessado na época por cursilhos de cristandade, ele é um católico praticante, ele disse: "Eu vou ajudar vocês. Eu só posso dar passagem de ônibus, mas eu dou a passagem com a condição de que, ao voltarem, vocês me contem como foi essa experiência". E foi assim que eu cheguei.
Esse curso de férias, que iria, de certa forma, mudar minha vida, também em termos de vocação. Com o tempo acho que a gente vai contar algumas dessas histórias.
Valdir
Foi em 1972 que a gente se conheceu. A gente se conheceu no evento, por assim dizer, no curso de férias da ABU, mas a gente não começou a namorar. A gente começou a namorar anos depois, em 1976, três anos e meio depois do nosso encontro. E isso também foi num evento.
Silêda
Foi. E nós começamos a nos conhecer mais de perto, ainda com colegas de ministério, nas reuniões de organizações desse congresso missionário, que foi em janeiro de 76. E foi ali que a gente começou a namorar, pouquinho tempo antes de uma mudança minha de volta para o Norte e Nordeste, não foi ,Valdir?
Valdir
É, pois é. Esses anos de ministério junto a ABU foram de fato muito ricos. Eu digo que eles foram muito loucos.
E havia acontecido um Congresso Mundial de Evangelização em Lausanne, em 1974, que foi um grande congresso, patrocinado, um congresso levado a efeito por Billy Graham e várias organizações a nível Global. Então, esse congresso teve um impacto muito grande através do pacto de Lausanne. E na Aliança Bíblica Universitária, nós nos propomos a buscar alguma coisa aqui para o nosso país, alguma coisa que fosse inspirada por esse evento, por esse encontro de Lausanne. Foi o encontro que trabalhou a questão de evangelização mundial mas também o compromisso do cristão na sua cidade, no mundo no qual nós vivemos. E aí é que nasceu a proposta do Congresso Missionário de 1976. Foi um evento bastante pioneiro na história dos encontros missionários aqui no Brasil. Foi um evento que aconteceu aqui em Curitiba. Nós vivíamos uma época de ditadura e, ainda assim, esse encontro aconteceu na Universidade Federal do Paraná, no auditório da Universidade. Nós trouxemos palestrantes, nós trouxemos estudantes de todo o Brasil, palestrantes também internacionais e também a nível do próprio Brasil. Então foi um evento muito importante e nós reunimos um grupo de estudantes que, por um mês antes do congresso, foram preparar esse evento. Então era uma turma, por assim dizer, que estava preparando o congresso, e foi naquele contexto de preparação do congresso que nós começamos a preparar o nosso casamento.
Nossa, que bonitinho isso.
Silêda
Pois é! Eu tinha vindo para São Paulo como Secretária de Literatura da ABU na época em que nós estávamos organizando, o que seria mais tarde a ABU Editora. Tanto que o meu envolvimento era com Literatura e, depois, eu voltaria como Secretária Regional para o Norte-Nordeste-Setentrional da ABU, já com o impacto desse congresso missionário, e a nossa vida seria de evento em evento.
Aliás, foi para mais alguns pequenos eventos da ABU que você foi em julho para o Nordeste e foi conhecer a minha família. Nós nos encontramos mais uma vez antes de nos casarmos no final do ano. Foi um namoro rápido.
Valdir
Muito rápido, e eu falava que eu era uma espécie de pessoa vocacionada a namorar por distância e essa essa experiência que a Silêda mencionou, de que eu trabalhava com estudantes aqui no Sul, nesses três estados do Sul e a Silêda no Nordeste, parte do Nordeste e Norte, e de fato nós trocamos cartas. Começamos a namorar no começo de 1976 e nós nos encontramos uma vez, no meio do ano, no contexto de outros eventos da própria Aliança Bíblica Universitária de novo, e eu fui conhecer a família dela, como a Silêda disse. Voltei para São Luís para casar, em 1976, em Dezembro de 1976. De alguma forma isso aconteceu, também, no universo de um encontro.
Silêda
Sim, a lua de mel. Porque o Valdir foi para São Luís, nós nos casamos e o nosso casamento foi um evento, na verdade. Porque nós nos casamos no templo em construção da minha igreja, no porão do templo, e a brincadeira era que "o Valdir fala tanto que Jesus tem opção pelos pobres que casou em um templo em construção", que foi calhado às pressas, o porão, para no nosso casamento, com o tapete vermelho emprestado de uma igreja Batista. Um grupo de jovens presbiterianos, da Assembleia de Deus e Batista envolvidos com a ABU cantaram no nosso casamento. Havia uma mistura de cristãos-evangélicos, que é a minha igreja, e foi um evento. Dali, nós partiríamos como noite mel para um encontro no Seminário de Capacitação de Líderes Latino-Americanos.
Mas antes de você falar nisso, Valdir, eu queria lembrar que o nosso convite de casamento trouxe uma palavra escolhida por nós que iria marcar a nossa vida de ministério. Falamos ali que nós descobrimos A Maravilha do Amor a Três; É Melhor Amar a Três. E que Deus seria esse elo entre nós para uma vida que a gente não tinha muita noção do que seria, essa nordestina e esse sulista passando a abraçar uma vocação de peregrinos. E a peregrinação começou indo para Lima, lembra, Valdir?
Valdir
Não, a peregrinação continuou, não é. A ABU realizava, a nível Latino-Americano, a cada dois anos, um evento de capacitação que reunia estudantes de vários países da América Latina com a liderança Continental, que eram pessoas que estavam marcando a nossa vida, como René Padilla, Samuel Escobar, Pedro Arana, e eles haviam até me convidado para fazer umas apresentações nesse evento e eu tenho os rascunhos dessa apresentação até hoje, que falava sobre o que é o Evangelho. Então nós saímos de São Luís, a Silêda e eu, tínhamos conseguido juntar alguns recursos, a ABU estava pagando, acho que a minha passagem, nós fomos de São Luís a Belém de ônibus; de Belém a Manaus de avião, porque é ou por ar ou por água, não é, e acabamos em Lima, para passar um mês de capacitação para o ministério de evangelização, de ministração de estudantes cristãos e na busca de evangelização de outros estudantes. Depois desse mês é que nós voltamos ao Brasil, voltamos a Curitiba para começarmos a nossa vida, agora, como uma vida matrimonial e isso, de alguma forma, é um outro capítulo.
Mas o que nós neste podcast queremos destacar é que a nossa a caminhada da fé cristã é uma caminhada de histórias e de encontros. Histórias que vão marcando a nossa vida e é muito bom lembrar como que Deus vai chamando a gente e como Deus vai costurando a vida da gente sem que muitas vezes a gente tenha noção do que vem pela frente. Agora, Silêda e eu temos quase 45 anos de vida matrimonial e nós agradecemos a Deus por essas histórias que, quanto mais velho, mais importante elas se tornam na nossa vida.
Silêda
E olha só que interessante: quando nós completamos 25 anos de casado, na nossa cerimônia íntima, com alguns amigos, as bodas de prata, os nossos filhos (nós temos quatro filhos) no surpreenderam com a música feita por eles e que pesquisaram, com amigos. E a música começa assim: "Lembram do congresso de 76? Silêda estava lá, Valdir na organização...". Eles contam nossa história de 25 anos de evento em evento, congressos e eu acho que nos 45 ele já teriam muito mais eventos para contar. Mas, hoje não dá. Essas histórias vão aparecer por aqui à medida que a gente conta a nossa história.
Valdir
Hoje, este podcast é uma gratidão a Deus, uma gratidão pela sua fidelidade para conosco e por esse encontro, de uma forma tão inesperada, do Sul e do Norte no Rio, e celebrando esse e outros encontros, de homens e mulheres, que investiram na nossa vida, que caminharam conosco e outros que nos permitem caminhar com ele, sendo muito mais jovens, com os quais nós podemos caminhar hoje. Então essa é a nossa oração de gratidão, neste podcast que se chama EntreLinhas, e é assim: Entre as linhas da vida.
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