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Olá!
Eu sou Valdir Steuernagel e este é o podcast Entrelinhas.
Um podcast de encontros, histórias e orações.
Bem-vindo!
Seja bem vindo a este podcast que tem como chamada "Continuei a orar".
A oração é, de fato, uma coisa muito presente na civilização, por assim dizer. Ela está presente em diferentes línguas, entre diferentes povos, em diferentes momentos da vida, em diferentes religiões. A oração é bastante comum, inclusive entre sociedades mais secularizadas que não, necessariamente, verbalizam a necessidade da oração, mas apelam a ela em momentos de angústia, momentos de perguntas, em momentos de dor, em momentos de perda. A oração é esse grito, é esse espaço, é essa busca de alguma interlocução com o Divino, com aquilo que está para além de nós.
Também na época de Jesus a oração era comum. A oração era uma prática com a qual Ele convivia, com a qual a sociedade convivia, com a qual os Seus discípulos conviviam. Aliás, em algum momento do Seu ministério, Jesus chegou a ter uma relação, digamos, polêmica com algumas expressões de oração; como ela era praticada, como ela era verbalizada, em que espaços e em que jeitos, com que indumentárias, com que performances. E, ao mesmo tempo, Jesus não apenas crítica essa postura, mas como ele tenta desenhar e praticar um outro universo dentro dessa marca da oração, um outro universo, um outro jeito de fazer; uma outra linguagem, outra postura, outra relacionalidade. Em um momento, os discípulos pediram para Jesus e disseram: "Jesus, ensina-nos a orar. Ensina-nos a orar".
A gente poderia olhar para isso de mais de uma perspectiva e dizer que os discípulos pedem para que Jesus os ensine a orar, não porque eles nunca o tenham feito, não porque eles não saibam orar, mas porque eles tem observado a oração na vida de Jesus. Eles tem escutado a postura crítica de Jesus em relação a uma determinada prática da oração e eles estão buscando, por assim dizer, aprender e reaprender a orar, a orar do jeito de Jesus, a orar com uma postura de Jesus, a orar com a entonação de Jesus, a orar com a linguagem de Jesus.
É interessante essa solicitação, esse pedido dos discípulos. "Jesus, ensina-nos a orar". De alguma forma essa é uma palavra e esse é um pedido que nós precisamos verbalizar sempre de novo, a cada geração, a cada agrupamento humano, em diferentes línguas. A gente sempre de novo precisa verbalizar isso. Não porque necessariamente a gente não ore, mas porque a nossa oração ela não está bem focada. Quando nós somos, por assim dizer, deixado sozinhos na nossa prática da oração, no nosso exercício da oração, ela acaba sendo uma oração utilitária. Ou seja, a gente ora para buscar alguma coisa para a gente.
Em segundo lugar, a nossa oração acaba sendo mágica. A gente, em alguma situação de aperto, busca alguma forma de sair dessa realidade, desse aperto, desse universo quase que de uma forma "tchan tchan", de uma forma mágica. Assim, se nós somos deixados por nós mesmo, a nossa oração passa a ser utilitária, passa a ser mágica e passa a ser performática. Ela quer impressionar. Ela é rebuscada na linguagem, na aparência. Ela é essa oração performática. Essa é uma oração para o outro, por assim dizer.
Essa é uma oração pública para o reconhecimento. E quando nós somos deixados com nós mesmos nessa oração performática, utilitária e mágica ela não passa do teto. Ela é uma oração que, de alguma forma, começa conosco e morre conosco porque ela não encontra eco, por assim dizer, no coração de Deus, a não ser um eco, que a gente poderia qualificar, "crítico". Um eco que encontra palavras críticas de Jesus. Quando Ele diz: "olha, não é assim. Essa oração performática é uma oração vazia. Essa oração mágica não comove o Coração, e, aliás, não chega a ele, ela não se relaciona". E os discípulos dizem: "Jesus, a gente tem escutado as Tuas críticas. A gente tem visto Você orar. A gente precisa aprender. Ensina a gente. Ensina para gente".
Tantas coisas que Jesus ensinou para os discípulos. Essa é uma das coisas que faziam parte da vida de Jesus com os discípulos. Eles iam aprendendo, eles iam vendo, eles iam escutando, eles iam se confrontando consigo mesmos, com as suas crenças, com as suas percepções. Eles iam descobrindo e o mesmo tempo eles iam revendo as coisas deles, e dizendo: "puxa, mas aqui Jesus está mostrando um caminho novo, Jesus está fazendo coisa nova". E quando os discípulos pedem para Jesus que Ele os ensinasse a orar, nós encontramos essa oração clássica: o Pai nosso.
Até espero que você conheça, saiba o Pai nosso. Essa é uma oração clássica. Impressionante! Essa é uma oração que tem atravessado o tempo, essa é uma oração que tem sido traduzida em mais línguas do que imaginamos. Essa é uma oração que encontra eco nos lugares mais escondidos do nosso planeta. Essa é uma oração que está presente nas mais diferentes tradições cristãs. Por um período da minha vida eu tive muita oportunidade de viajar, de estar em lugares onde a igreja era grande, em lugares onde a igreja era proibida, em lugares onde a igreja era bem pequena, em lugares onde os cristãos eram absolutamente minoritários. Em diferentes contextos. Contextos hindu, budista, muçulmano. Nesses universos, de repente você tem uma pequena igreja, uma pequena comunidade, um pequeno grupo de pessoas ou você tem igrejas históricas muito antigas. Sempre de novo, essa é uma oração que aflora e com a qual a gente se sente em casa. É o Pai Nosso.
Essa oração que Jesus ensinou para os Seus discípulos e que é tão profunda, é tão rica, é tão ampla, é tão acolhedora. Ela coloca as coisas no seu devido lugar de uma forma tão bonita e tão concisa que a gente a repete no decorrer das gerações e dos séculos. Fantástico! Pai Nosso!
É uma oração que vai muito além de um podcast como este, onde a nossa conversa sempre é curta (e curta a gente quer mantê-la). Mas ao olhar para essa oração hoje, eu queria destacar duas marcas dessa oração de Jesus:
A primeira marca dessa oração de Jesus, a gente podia resumir na palavra "adoração". "Pai nosso". "Pai nosso que estás no céus, santificado seja o Teu nome". Bonito. Denso. Riquíssimo. Pai Nosso.
É uma linguagem de relacionalidade. Uma linguagem de familiaridade. Uma linguagem do universo da intimidade. Pai! Essas realidades familiares, pai, mãe, filhos, que trazem tanta dessa intimidade, dessa familiaridade. Deus não é um deus distante para quem a gente joga algumas esmolas ou sacrifícios. Ele é Pai. Pai Nosso. Coletivo. Ele não é propriedade de ninguém, mas Ele quer ser o Pai de todos. A gente vive num universo de tanta divisão, de tanto particularismo, de tanta xenofobia, onde a gente não gosta do outro e aqui a gente é convidado a orar juntos. Pai Nosso. Nós, que somos diferentes, temos possibilidade de invocar o mesmo Pai. E esse Pai, Ele é adorado. Então por isso que essa primeira palavra que brota, que borbulha dessa oração que Jesus ensinou é "adoração".
Adoração como atitude de vida. Adoração como um jeito de viver. Adoração como um jeito de viver que não olha simplesmente para si, que não para em si mesmo e termina em si mesmo. É uma oração que olha para o além. Uma oração que olha para o Eterno. Uma oração que tem olhos, olhares para o transcendente. Oração que tem saudade do Divino, que encontram nesse Divino não um ser abstrato em algum lugar, mas um Pai. Um Pai de uma comunidade e que diante Dele se reconhece na sua humanidade, diante Dele se reconhece na sua necessidade, na sua possibilidade de respirar fundo para dizer "Ah, tem alguém muito além de mim".
Graças a Deus a gente não está sozinho. A gente não está abandonado. A gente não está relegado a uns anos de vida e depois tudo vai embora. Não! A gente tem a possibilidade de viver diante do Eterno e saborear a Sua presença e deixar-se marcar por esse abraço do Pai que nos acolhe. Então, quando Jesus nos ensina a orar, Ele nos ensina a reconhecer quem Deus é e a encontrar a Deus, ou melhor, deixar-se encontrar por Deus.
Continuando orar nós nos encontramos com Deus. E nos encontrando, reencontrando, sendo encontrados por Deus nós nos encontramos com a nossa própria humanidade, com todo o seu potencial, mas também com a sua carência, com a profunda necessidade de Deus que nos acolhe. De Deus, que é essa expressão de relacionalidade, de familiaridade, que nos basta nessa totalidade. O Deus que é Pai. O Deus que nos acolhe como uma mãe nos acolhe. Um Jesus que nos diz que nós somos irmãos Dele. Fantástico!
Por isso, neste podcast onde eu queria continuar a orar e a orar com você é escutar, da parte de Jesus, essa oração que nos desafia a todos, mas também nos convida para que a gente possa dizer juntos "Pai nosso que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome. Venha a nós o Teu Reino. Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu".
Viver em adoração a Deus é um jeito divíno de viver. Viver orando, na consciência de que Deus é Pai e na consciência de que nós somos irmãos.
Não esqueça de orar "Pai nosso que está com Deus".
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