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  • Foto do escritorValdir Steuernagel

Saiba o seu nome!

Os nomes seriam somente nomes?


O nome dele é Maicon!

Eu dei a partida no carro, como sinal de que estava pronto para sair. O “fusquinha” verde me levaria, pela quarta vez, ao cartório. O nosso filho, recém-nascido, seria registrado, conforme a indicação da lei e dos bons costumes.


Pelo vidro aberto do carro eu troquei umas últimas palavras com a convalescente Silêda: “então está decidido, vamos registrá-lo como Marconi.” E assim daríamos continuidade à minha obsessão com o “M”. Simples teimosia e nada de significado. Os outros, afinal, já se chamavam, pela ordem, Marcell, Marcos Davi e Márcio André.


Mas o carro não chegou a sair do lugar. Inseguro, eu o desliguei. Nem sei bem porque, mas eu não sentia que havíamos “chegado lá”. Sem nenhuma discriminação, eu sentia que Marconi não “caía bem”. Coisas inexplicáveis da voz do coração. E o registro do menino foi posposto. Um novo perscrutamento foi entabulado e um novo nome lhe foi dado. No outro dia, no mesmo “fusquinha” verde, eu visitei o cartório e o registrei como MAICON.


O tempo correu e os anos se passaram. Hoje, eu olho para ele e fico feliz que naquele dia eu desliguei o carro. Pois ele tem cara de Maicon. O nome se parece com ele e ele se parece com o nome. Maicon é reflexo da sua identidade.


Hoje, quando pronuncio o seu nome lá da área de serviço do nosso apartamento, é ele que do seu quarto responde. E desengonçado em seu tamanho adolescente, lá vem ele balançando e dizendo “me chamou, velho?” Maicon, afinal, é o seu nome.


E qual é o meu nome?

O meu sobrenome é complicado, não há como negar isso. Às vezes, o mais simples é já ir soletrando...S...t...e ...u... e lá vou eu.


Mas é bom que a nossa cultura seja a do primeiro nome. E esse é fácil. Valdir, afinal é bastante comum. É nome de jogador de futebol. E Valdir sou eu. Pronunciado por sotaques e jeitos diferentes, dependendo de onde estou. Entre os latinos o “V” parece se transformar em “B”, e eu passo a ser uma espécie de Baldir. Lá na casa dos meus pais, sob a influência germânica, eu passo a ser Váldi, como sou chamado desde menino. E eu vivo tranquilo com o meu nome.


Mas há uma dimensão mais profunda em todo esse processo, que trabalhei num seminário sobre revisão de vida, outro dia. Então me foi perguntado qual era o meu velho nome e qual era a luta da minha vida. Qual seria o nome que identificava e descrevia o meu jeito de viver, o meu estilo de relacionamento e os meus valores.


Essa foi uma hora difícil, por ser uma espécie de hora da verdade. Hora de olhar no espelho e me confrontar com a minha velha natureza. Hora de olhar nos olhos do meu espírito inquieto, me confrontar com a minha competitividade e a minha tendência manipuladora. E vendo tudo isso me acompanhar no decorrer dos anos, caracterizando tantos dos meus processos e relacionamentos de vida. E assim, contrito, eu concluí que não era aquele que eu pensava ser. Eu não correspondia à imagem que eu havia feito de mim. E estava longe de ser aquele que Deus queria que eu fosse. Não era esse o nome que Deus me havia dado e me queria dar. Em arrependimento, pois, eu me via carente da graça de Deus. Carente de um novo nome que expressasse a minha vulnerabilidade e a minha precisão de Deus. Do seu abraço e da sua voz.


Uma das passagens bíblicas marcadas por profunda intensidade e significado é a chamada luta no vale de Jaboque (Gênesis 32: 22 - 32). Foi ali que Jacó se atracou com Deus e, desesperado e firme, pedia pela bênção de Deus: “Não te deixarei ir, se me não abençoares”. (v.26) Uma santa obsessão!


E foi na intensidade desse momento que Deus não apenas perguntou pelo seu nome, mas o mudou. De Jacó , o usurpador, ele passou a ser chamado Israel, o que lutou com Deus. E ali Deus o abençoou. Ouçamos o texto em toda a sua força e clareza: “Perguntou-lhe, pois: como te chamas? Ele respondeu: Jacó. Então disse: já não te chamarás Jacó, e, sim Israel: pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste... E o abençoou ali.” (Gênesis 32. 27-29). Essa foi a bênção da graça de Deus e da possibilidade da mudança humana. A bênção que o colocou de pé, a viver e enfrentar o futuro.


E foi ali, naquele seminário que a outra pergunta também ressoou: qual seria o meu novo nome? E eu lutava. Não com Deus, mas comigo. Com a minha história e os meus padrões de comportamento. Com traços da minha personalidade e com a profundidade da minha pecaminosidade.


Quanto a Deus, eu sabia que ele não desistia de mim. Querendo me dar um novo nome ele afirmava o seu amor por mim, o seu investimento em mim, e me descortinava a possibilidade futura do próprio relacionamento com ele.


Eu sabia, também, que Deus me conhecia pelo meu nome. Com Valdir ele havia se relacionado e ao Valdir ele havia chamado. Na vivência no seu quintal, afinal, eu havia encontrado a minha identidade e a minha vocação.


E era ele que não me largava. E não me largando, ele queria me fazer consciente do novo nome que queria me dar. Um nome que refletisse o que ele queria para mim e que indicasse o caminho maior e estreito no qual eu deveria andar. E foi ali, que nasceu PRESENTIA. O nome da graça e do objetivo. Graça de Deus e objetivo de vida.


O novo nome estava a indicar a redescoberta da presença de Deus na minha vida e o desafio de estar na sua presença, com inteireza, quietude e serenidade. Presentia, como convite à intimidade.


E assim, Jacó e eu saímos mancando da presença de Deus. Mancando e sorrindo, rumo a um novo dia de relacionamentos, tarefas e desafios.



Oração do 4º século


O Senhor esteja em tua frente

para indicar-te o caminho certo.


O Senhor esteja ao teu lado

para abrigar-te em seus braços e para proteger-te.


O Senhor esteja abaixo de ti

para acolher-te quando caires e para livrar-te do laço.


O Senhor esteja em ti

para consolar-te quando estiveres triste.


O Senhor esteja ao teu redor

para defender-te quando outros te atacarem.


O Senhor esteja acima de ti

para te abençoar.


Assim te abençoe o benigno Deus!


Escrevinhação” Divina

Vez ou outra, caminhando num parque ou andando numa trilha pelo mato, é possível perceber o nome de uma pessoa inscrito numa árvore. E ali, intrometida, a inscrição permanece no decorrer do tempo. A árvore cresce e a sua casca ameaça esconder o nome que, teimoso, se nega a desaparecer.


É, pois, com uma teimosia mais teimosa, que Deus quer, não apenas saber o nosso nome, mas inscrevê-lo na geografia do céu. E assim, caminhando nos parques da nova terra e do novo céu é possível exclamar: “...olha essa inscrição... essa pessoa eu conheço! “ Uma bonita inscrição na qual só consta a data do nascimento! Nela não há data de falecimento, porque o futuro está aberto e a eternidade vem com cada amanhecer. Na carta escrita à igreja de Pérgamo isso se diz assim: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe.”(Ap. 2. 17). Para ser franco, é melhor escrever o nome em pedrinha do que inscrevê-lo numa árvore. Coisas de Deus!


Ser conhecido por Deus é a coisa mais importante da vida. Não apenas porque na pronúncia do nosso nome pela boca de Deus se decide a nossa eternidade. Mas porque ter o nosso nome pronunciado por Deus nos dá o mais profundo e completo sentimento possível de aconchego e pertencimento. É então que somos abraçados por inteiro e sabemos, de fato, quem somos.


E isso é mais importante e valoroso do que deter as ações da Microsoft., possuir uma detalhada coleção de carros ou fazendas. Isso é mais significativo do que ter o currículo mais completo e ser pastor da maior igreja. Aliás, isso é mais importante do que a própria autoridade espiritual. Imagine só! É Jesus mesmo que deixa isso tão claro: “Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e, sim porque os vossos nomes estão arrolados nos céus.”(Lucas 10.20)


Saudade de Deus!

Noutro dia, um amigo latino-americano pediu que eu lhe ensinasse uma vez mais aquela palavra que diz tanto, mas que só era conhecida em língua portuguesa: saudade. Mas como é possível explicar essa palavra em outra língua se depois de tê-lo feito, parece que se tem em mãos uma colcha de retalhos? Afinal, saudade só continua sendo exprimível pela expressão saudade.


Mas Deus sabe o que é saudade. Aliás, ele tem saudade de nós. Eles nos chama porque ele nos quer junto de si. Conviver conosco na viração do dia, para usar uma linguagem do relato da criação. Mas a sua convivência não quer ser nem solene, nem protocolar. Aquele tipo de silêncio pesado, na sala de visita, onde se busca qualquer coisa para dizer, fazendo o comentário se seguir de um sorriso amarelo: “Mas essa chuva não pára, não é verdade?”.


A saudade de Deus tem a marca da salvação. Ele nos chama porque ele quer o nosso bem e, nos remindo, passamos a visualizar uma relação de intimidade com ele. É isso que Deus diz quando fala ao povo de Israel através do profeta Isaías: “Não temas, porque eu te remi, chamei-te pelo teu nome, tu és meu”. (Isaías 43.1)

Ser ou não ser, eis a questão? Pois, é bom ser de Deus.
Samuel! Samuel!

Não é difícil passar por essa experiência na qual escutamos o nosso nome sendo chamado, mas não sabendo ao certo quem nos chamou e onde fomos chamados. E lá vamos nós pelo corredor: “Quem me chamou? Onde você está?”


Não é, pois, difícil imaginar o jovem Samuel saindo pelo corredor, no escuro da noite a procurar o autor da voz. E assim, entre dormindo e acordado ele esbarra contra a cama de Eli, “...ahn! O senhor me chamou? Algum problema?”


E a cena se repete por várias vezes com a diferença de que na terceira vez Samuel já está mais acordado e bastante irritado; -- “não é possível que esse velho...”


Mas é esse velho que lhe ajuda a ver uma luz no final desse túnel do nome que insiste em ecoar “Samuel, Samuel” . Uma história que acaba sendo absolutamente dramática. E aja suor e língua seca.


E lá está Samuel deitado na cama, de olhos esbugalhados e de estômago embrulhado quando a voz soa pela quarta vez: “Samuel, Samuel” (1 Samuel 3. 1-14). Agora, afinal, ele sabia que era Deus que estava lhe chamando. E ele nem sabia direito como responder a isso. Balbuciando, pois, ele diz: “Fala, porque o teu servo ouve”(v.10). Já imaginou o tempão que Samuel levou para pegar no sono depois de tudo isso? A adrenalina podia ser sentida no ar.


Deus nos chama para si, isso se pode dizer. Para ouvir a sua voz, receber o seu abraço. Deus nos chama para sentarmos aos seus pés, como Maria o fez ( Lucas 10.39). Mas Deus nos chama, também, para ir. Deus nos chama para sermos profetas, mas isso é assunto para outro dia.


Tchau! Amanhã eu volto. Mas é bom não se negar a ouvir a voz que está chamando a gente pelo nome. Nem toda voz que nos chama é de Deus. Mas quando Deus chama, a gente acaba sabendo. Pois ele está interessado em nos fazer saber quando é ele quem nos chama. Afinal, ele não chama quatro vezes à toa.

 

Publicado originalmente na Revista Ultimato.

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